Sempre gostei e me interessei muito pelas Deusas, seus mistérios e conhecimentos. Mas esta história , nesta versão, (existem muitas) me tocou, e de uma forma tão clara mostrou a profundidade do mistério que existe no contato com estas Deusas, Ereshkigal e Inanna !
Então, vamos lá:
Era uma vez e não era uma vez uma Deusa chamada Inanna. Inanna é uma “deusa do céu”, brilhante, ativa, sensual e alegre. Sua vida flui de forma relativamente suave até o dia em que ela foi visitar sua cruel irmã , Ereshkigal, que vive no mundo subterrâneo e cujo nome significa literalmente “a senhora do grande lugar que fica abaixo”.
A história começa quando o marido de Ereshkigal morre e há um funeral no mundo subterrâneo. Inanna sente-se impelida a comparecer ao funeral e a fazer uma viagem pelo domínio de Ereshkigal. Ela precisa descer a um lugar do qual, na realidade, não gosta, uma região com a qual não tem familiaridade, um lugar que não é o seu mundo. Quando Inanna chega ao primeiro portão do mundo subterrâneo, Ereshkigal a recebe com o olhar sombrio e venenoso: “Como te atreves a vir ao meu reino? Mesmo sendo minha irmã, eu te sujeitarei ao mesmo tratamento que todas as almas recebem quando penetram o mundo subterrâneo”. Ereshkigal está de péssimo humor e, quando se sente dessa maneira, todos à sua volta sofrem. Ela não pára para considerar que Inanna veio para estar a seu lado no funeral de seu marido. Ereshkigal não está interessada em ser razoável ou justa. Ela representa a raiva global e primitiva da criança: quando está zangada ou infeliz, tudo é ruim e nada vale à pena.

Sete portões levam às profundezas do mundo subterrâneo. Ereshkigal ordena a Inanna que passe através desses sete portões,e em cada um deles a rainha do céu deve tirar uma parte de suas roupas: sua túnica, seu vestido, suas jóias – até chegar à parte mais profunda do submundo completamente nua. Aí, ela é então instruída a curvar-se diante de Ereshkigal, para honrar a força que a desnudou. Podemos ter que abandonar as coisas através, das quais temos até agora retirado nosso senso de identidade. Relacionamentos, empregos, sistemas de crenças, posses ou outras formas de apego podem nos ser tirados e levados embora, ou perdem sua validade ou apelo. E ainda assim, no mito, Inanna é obrigada a curvar-se diante de Ereshkigal – a honrar a força que a desnudou como se esta fosse uma deidade. Ereshkigal é uma deusa, uma deusa sombria, mas ainda assim uma deusa. É uma divindade através da qual opera uma lei mais alta e deve ser honrada como parte da vida que é. Sermos despojados de nossa identidade e de nossos apegos não é uma coisa agradável: trata-se de algo que sentimos mais como uma maldição do que como o trabalho de uma divindade. Embora possa ser difici1 de compreender, Ereshkigal serve.a um propósito mais elevado. Entretanto, a natureza desse propósito nem sempre fica clara de imediato. De fato, no caso de Inanna, a situação parece piorar mais ainda. Como se desnudá-Ia completamente e fazê-Ia curvar-se não fosse punição suficiente, Ereshkigal em seguida mata Inanna e pendura seu corpo num gancho para que aí apodreça. Aquela que fora uma deusa dos céus, feliz, bela e florescente, fica dependurada no mundo subterrâneo como se fosse um pedaço de carne morta apodrecendo pouco a pouco.
Isso é o que Ereshkigal faz a irmã, fará com qualquer criatura em certos momentos da vida, banindo-nos para um lugar onde nos sentimos podres e um lugar feio, nojento, depressivo, solitário e abandonado.
Esses .sentimentos sempre estiveram em nós, escondidos nos lugares mais escuros de nossa psique, deixado pelos traumas de infância ou por experiências passadas . Podemos nos dedicar com sucesso contra tais estados emocionais, mas Ereshkigal encontra uma forma de fazer com que os enfrentemos.

Tranqüilamente, os dois pequenos Lamentadores aproximam-se aos poucos de Ereshkigal e lnanna. Sua tarefa é salvar lnanna, mas eles a realizam de uma maneira muito incomum. Embora estejam ali para levar lnanna de volta, eles a ignoram completamente e concentram-se primeiro em Ereshkigal. Ao invés de repreenderem Ereshkigal pela morte de Inanna, eles optam pela comiseração em relação à deusa sombria, estabelecendo uma empatia. com ela. Ereshkigal, nas dores do parto, lamenta seu destino:
“Eu sou o pesar, o pesar está dentro de mim!”
Os Lamentadores apiedam-se dela: “Sim, tu que choras és nossa rainha. O pesar está dentro de ti!”
Então, porque odeia o fato de ser a deusa do mundo subterrâneo, ela chora:
“Sou o pesar, o pesar está do lado de fora de mim!”, e eles respondem:
“Sim, tu que choras és nossa rainha. O pesar está do lado de fora de ti”.
Os Lamentadores espelham o que Ereshkigal está sentindo. E fazendo-o, queixam-se e seus lamentos soam mais como uma oração ou litania. Os Lamentadores haviam sido instruídos por Enki para afirmarem a força vital, mesmo se esta se revelasse na forma de dor e sofrimento.
Mesmo na escuridão e na negatividade, ainda há algo a ser honrado, algo a ser redimido. Ereshkigal está espantada. Ninguém jamais a honrou dessa forma antes. A maior parte das pessoas passa sua vida tentando evitar a dor, a escuridão e todas as coisas que Ereshkigal representa. Mas os Lamentadores a aceitaram; deram-lhe, graciosamente, o direito de se lamentar e de reclamar. O que efetivamente estão dizendo a Ereshkigal é:
“Tu tens o direito de ser. Podes reclamar e continuar reclamando tanto quanto quiseres, e ainda assim te aceitaremos.”
Ereshkigal, grata por esse tipo de reconhecimento, quer recompensar os Lamentadores e oferecíeis qualquer coisa que desejarem. E eles lhe pedem que Inanna seja devolvida. Ereshkigal concorda, aspergindo lnanna com uma nova vida, e a rainha dos céus revive, livre para retomar novamente ao mundo superior.
Da mesma maneira que os Lamentadores de Enki aceitam EreshkigaI, também podemos aprender a aceitar a depressão, a escuridão, a morte e a decadência como parte da vida, como parte do grande círculo da natureza. Precisamos estar dispostos a penetrar em nossa depressão e nossa dor, a explorá-las, senti-las, esperando que passem. Precisamos de permissão para entristecer, lamentar e sentir rancor – não apenas em relação a pessoas e coisas que perdemos, mas ainda por fases perdidas de nossa vida, ideais perdidos que não nos servem mais. A aceitação permite que a mágica da cura funcione. Somente no momento em que Ereshkigal é honrada e reverenciada como uma deidade é que nós, como Inanna, podemos retomar ao mundo superior. Essa é a lição que Enki tem para nós; é a sua maneira de nos ajudar durante trânsitos difíceis de Plutão e de nos trazer de volta do mundo subterrâneo para uma nova vida e uma nova esperança.
A história termina com uma mudança interessante. Há uma regra que diz que, quando alguém se liberta do mundo subterrâneo, é preciso encontrar uma outra pessoa para tomar o lugar daquele que se libertou. Quando lnanna retorna ao mundo superior, procura seu consorte Tammuz, que não a ajudara quando ela estava nos domínios de sua irmã, e diz: “Agora é a tua vez; deves tomar o meu lugar no reino de Ereshkigal”. Se um componente de um sistema se modifica, então todo o sistema terá que se alterar para que possa funcionar adequadamente. Se um dos parceiros, num relacionamento, passa por mudanças psicológicas significativas, a menos que o outro parceiro também ‘se modifique, o relacionamento corre o risco de ser completamente destruído. Inanna foi despojada de tudo o que lhe dera uma identidade e foi deixada morta — e mesmo assim ressurgiu renovada. A única maneira de descobrirmos que temos a capacidade de sobreviver à morte de nosso ego é passar pela morte do ego. Quando tudo o que pensávamos ser é levado embora, descobrimos uma parte de nós que ainda existe – aquele aspecto de nosso ser que é eterno e indestrutível. Quando o que pensávamos que nos suportava é levado embora, encontramos o que realmente nos suporta.
( Adaptação de “Os Deuses da Mudança” de Howard Sasportas)
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